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➺ O que são falácias na Redação dissertativa

Quando se fala sobre a construção do texto dissertativo, sempre esbarramos na construção equivocada dos argumentos e um dos erros mais comuns são as falácias. Veja nesta série de artigos o que são falácias e como elas podem prejudicar a construção do texto dissertativo no Enem.



Falácias


"Existe a persuasão válida, que é aquela em que expomos com clareza os motivos que fundamentam nossa posição - e o interlocutor pode perceber e questionar cada passo de nosso raciocínio - e a persusão não válida, em termos lógicos.
A persuasão não válida é aquela em que o interlocutor não tem consciência de que está sendo persuadido, nem pode perceber e questionar os elementos do processo de persuasão. Por exemplo, as apelações e chantagens sentimentais, as jogadas com as inflexões de voz e com a mímica, os apelos subliminares às necessidades não conscientes etc." Este tipo de persuasão é realizado sobretudo por meio de falácias.

(Severino Antônio / Emília Amaral - Escrever é Desvendar O Mundo, Campinas, Papirus, 1987)

Devemos saber reconhecer os argumentos falaciosos: aqueles tipos de raciocínios nos quais há erros lógicos, mas que podem funcionar e muitas vezes funcionam, isto é, persuadem, por serem bem estruturados do ponto de vista retórico.

Para aprendermos a refutar teses de que discordamos, para exercitarmos a contra-argumentação e também para aprofundarmos o nosso estudo sobre processos argumentativos, é necessário conhecer os tipos mais comuns de falácias, como passaremos a fazer.

Principais tipos de falácias


1 - Argumento terrorista: afirmar que o contrário do que o que está sendo defendido resultaria em uma consequência prática desastrosa.

Ex: Se você não concordar comigo, certamente falará sozinho durante o debate.

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A premissa (no caso, uma condição) não é relevante para justificar a conclusão, pois outros fatores (como por exemplo a presença de outras pessoas no debate), podem contradizer o que está sendo afirmado. Coação, ameaças ou intimidação, com elementos subentendidos, como nesse exemplo, não têm lugar numa argumentação lógica.

2 - Argumento contra o homem: denegrir a imagem de uma pessoa e/ou fonte, com vistas a comprometer aquilo que afirma.

Ex: Aquele deputado que foi cassado por conduta criminosa defende a adição de flúor à água potável para o abastecimento da cidade. Logo, não devemos adicionar flúor à água potável para o abastecimento da cidade.

Comentários

Apesar de a declaração ter como agente uma fonte que não é confiável, isso não tem relação com o fato em si: adicionar flúor à água potável para o abastecimento da cidade. Rejeitar a opinião simplesmente por ser repreensível a figura que a proferiu, sem verificar se é válida ou não ao nível dos fatos, constitui um dos exemplos mais comuns do uso falacioso do argumento contra o homem.

3  - Argumento por ignorância: uma ideia é demonstrada como verdadeira porque não se demonstrou sua falsidade.

Ex: Ninguém ainda provou que Deus existe. Portanto, Deus não existe.

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Este raciocínio é falacioso por apelar para a ignorância; não podemos ter nenhuma conclusão a respeito da existência de Deus baseados apenas em nossa incapacidade de prová-la.

4  - Erro de acidente e/ou obervação inexata: generalização apressada, imprecisa, parcial; com ambiguidade resultante da ênfase de uma parte, em detrimento do todo.

Ex: No fim de semana retrasado choveu, enquanto durante toda a semana tinha feito sol; o mesmo acorreu no fim de semana passado. É claro que no próximo fim de semana vai chover de novo...
Comentários

Perceba como é baixa a probabilidade indutiva desse argumento: dois exemplos dificilmente são suficientes para garantir uma conclusão como a colocada... A falácia decorre da pressa com que se fez a generalização.

5  - Falso axioma: partir de afirmações aparentemente inquestionáveis, mas na verdade preconceituosas.

Ex: O jovem é alienado. Logo, ele não se interessa pela cultura nem tem consciência social.

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A premissa parece inquestionável, mas não é. Ela peca por generalização indevida e também por ser, no fundo, a expressão de um preconceito, convertida em axioma. A conclusão possui os mesmos problemas, invalidando e tornando falacioso o raciocínio.

6 - Ignorância da questão: fugir dos fatos e apelar para a emoção.

Ex: Por favor, funcionário, você está vendo aqui o meu bebê? Ele está doente, começou a chorar por um doce e, então, precisei levá-lo à doceira antes de pegar o carro no estacionamento. Sendo, assim, você não deveria cobrar mais pelo valor do tíquete.

Comentários

Observe que o argumentador apela para a piedade do funcionário, fazendo com ele chantagem sentimental e assim sendo claramente irrelevante em termos lógicos.