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➺ Novas formas de fazer a introdução da redação

Neste artigo vamos dar mais algumas opções interessantes para construir a introdução de uma redação dissertativa capaz de ser avaliada com nota 1000. Este post é uma continuação de um outro no qual falamos sobre as primeiras e mais simples formas de iniciar um texto. Saiba mais sobre perder o mesmo de escrever uma redação acessando o site.

Definição: com a definição caracterizamos de maneira sintética o assunto sobre o qual dissertaremos, delimitando-o e explicitando em que sentido iremos explorá-lo.

Exemplo:

Paixão triste, o medo é e sempre será paixão, jamais transformando-se em ação do corpo e da alma. Sua origem e seus efeitos fazem com que não seja uma paixão isolada, mas articulada a outras formando um verdadeiro sistema de medo, determinando a maneira de sentir, viver e pensar dos que a eles estão submetidos.
(Marilena Chauí - Sobre o medo - Os Sentidos da Paixão, São Paulo, Funart/Companhia das Letras, 1987)

Fato-exemplo: um fato-exemplo, na medida em que dá concretude e materialidade ao início do texto, facilita a colocação do ponto de vista e ajuda a engajar o leitor na leitura.

Exemplo:

Um amigo meu se matou, já faz bastante tempo, mas sua imagem povoa, com freqüência, a minha cabeça. Lutei junto com ele, longamente - contra a morte dele. Através da amizade, da inteligência e do coração - lutamos contra a morte dele. Ou melhor: lutamos contra a morte, a dele, a minha, a de todo mundo. Viver é, em última análise, lutar contra a morte...
(Hélio Pellegrino - A Burrice do Demônio- Rio de janeiro, Rocco, 1988)


Conversa com o leitor: trata-se de uma forma de introdução muito persuasiva na medida em que convoca o leitor, o interlocutor, a participar de nosso ponto de vista, nossa opinião.

Exemplo:

Você tem tempo de ler este artigo? Se não tiver, paciência. Pelo menos assim você estará inadvertidamente ajudando a ilustrar o argumento que ele defende. Obrigado pela força. Mas, se você tiver, só me resta pedir a sua paciência e compreensão. Espero que você não se arrependa, após a leitura, de ter perdido o seu tempo, e que o meu argumento encontre alguma ressonância em sua própria experiência.
(Eduardo Giannetti - Folha de São Paulo, 16/04/98)

Analogia / comparação: estabelecer pontos de semelhança entre coisas diferentes, comparar, é um modo criativo e provocador de introduzir a discussão de um tema.

Exemplo:

O futebol pode ser comparado a um grande gênero literário. Dispõe de um espetáculo, de uma rede de comentários, tem regras e ritual definido. A objeção, no caso, seria a de que uma partida não vem a ser uma ficção: uma jogada, afinal, é para valer, pertence à praxis (e não à poíesis) e, além do mais, o que vale para o futebol vale para todos os esportes, e assim meu argumento ficaria sem valor etc.
(Antônio Medina Rodrigues - A Palavra e o Futebol - Rev. Livro Aberto - agosto/1996)

➺ Sugestões para fazer uma boa introdução no Enem

Vamos ver agora, alguns elementos que podem estar presentes na introdução de um texto dissertativo, como recursos expressivos que subsidiam a colocação do ponto de vista:

Indagação do tema: começar uma dissertação com perguntas cria o contexto de debate, característico deste tipo de texto, além de ser um convite à parceria do leitor na reflexão, uma vez que as conclusões parecem abertas, a se fazer ao longo do texto.

Exemplo:

Computador? Televisão? Avião? Já que está começando a temporada de balanço do século XX, pergunta-se: qual a invenção que mais marcou, ou as invenções que mais marcaram, esses 100 anos?
(Roberto Pompeu de Toledo - Ensaio - ver. Veja - São Paulo, 15/04/98)

Citação: na citação mencionamos ou transcrevemos uma opinião decorrente da experiência vivida ou relatada (citação informal); ou de uma passagem de livro, revista etc. (citação formal), que servem como apoio na colocação de nosso ponto de vista.



Citação informal

Exemplo:

Por um breve momento, diz Griffith - com a invenção do cinema -, deu-se uma aparição: a beleza do vento soprando nas árvores. Algo que não se mostra de imediato a todos os olhos, que não se deixa facilmente retratar. Um esplendor que, entretanto, acabaria desaparecendo - talvez para sempre -dos filmes.
(Nelson Brissac Peixoto - Ver o Invisível: A Ética das Imagens - Ética, - São Paulo, Companhia das Letras, Secretaria Municipal de Cultura, 1992)

Citação formal

Exemplo:

Quando nos apaixonamos, quanto amamos, o ser amado nos aparece como inserido na natureza. Na época de seu relacionamento com Rilke, Lou Andrés-Salomé escreve, num ensaio sobre o amor: "O ato sexual é o meio pelo qual a vida nos fala, como se o amante não fosse apenas ele mesmo, mas também a folha que treme sobre á a árvore, o raio que cintila sobre a água - mágico da metamorfose de todas as coisas, uma imagem explodida na imensidão do Todo, de tal modo que nos sentimos em casa onde estivermos".
(Luzilá   Gonçalves   Ferreira   -   Lou  Andreas-Salomé:   A  Paixão  Viua  -  Os   Sentidos  da   Paixão,   São   Paulo, Funart/Companhia das Letras, 1987)

➺ Duas novas ciências - exemplo de texto filosófico

Em oposição ao modelo geocêntrico da astronomia de Ptolomeu, Copérnico, no século XVI, propôs o modelo da teoria heliocêntrica. Mas sua hipótese não causou tanto impacto quanto a divulgação feita por Galileu no século seguinte, a ponto de as autoridades eclesiásticas o obrigarem a retratar-se sob pena de ser condenado à morte.

É bom lembrar que as reações contra Galileu partiam dos adeptos da Escolástica decadente e refletiam de maneira geral o temor daqueles que pertenciam à antiga ordem (a aristocracia e o clero com ela comprometido) e não queriam a destruição das hierarquias da nobreza e da Igreja.
Mas que mudanças são essas que tanto afligiam os antigos?

Galileu Galilei torna-se responsável pela moderna concepção de ciência ao criar o método científico. Sua contribuição teórica teve como resultado a reformulação completa de duas novas ciências, a astronomia e a física.

Com o uso da luneta, Galileu descobre que o universo é infinito e que os astros não são constituídos de matéria incorruptível (o Sol tem manchas e a Lua é montanhosa), o que destrói a divisão hierárquica do mundo supralunar e sublunar. Ao mundo geocêntrico, finito, ordenado, qualitativo, opõe-se o universo descentralizado e geométrico em que os espaços podem ser medidos.

A grande novidade no desenvolvimento da física é a introdução da experimentação e da matematização. Enquanto a física antiga é qualitativa, preocupada com a explicação das qualidades intrínsecas das coisas, Galileu observa e realiza experimentações em laboratório, usa instrumentos e faz a descrição quantitativa do fenômeno.


➺ Leitura de um exemplo de Dissertação Clássica

Neste artigo vamos ler uma redação feita de forma tradicional, com as partes constitutivas de qualquer redação que se preste a defender uma ideia. Para isso, vamos transcrever abaixo um texto e depois fazer comentários sobre suas características. Veja ainda que, nos próximos artigos vamos sugerir, por exemplo, maneiras de iniciar um texto dissertativo nota 1000.

Exemplo de redação dissertativa (fragmento de entrevista)


Como saber se a teoria psicanalítica é sólida.

INTRODUÇÃO - APRESENTAÇÃO DO PONTO DE VISTA

Nenhuma ciência é definitivamente correta. Sempre há teorias novas, e compreensões novas. Mas há descobertas que são irreversíveis.

DESENVOLVIMENTO - APRESENTAÇÃO DOS ARGUMENTOS

A astronomia moderna, por exemplo, é bastante diferente da de Copérnico, mas ninguém, hoje, pode acreditar que a Terra é plana e que o Sol gira em tomo dela. O mesmo se aplica à teoria psicanalítica. Desde a descoberta da sexualidade infantil, da agressividade e da descoberta de processos do inconsciente vitais para a nossa vida consciente, ninguém mais pode achar que os primeiros anos de vida e a infância não formam o nosso caráter.

CONCLUSÃO - REAFIRMAÇÃO DO PONTO DE VISTA (acrescentando-lhe outros elementos)

Concluindo, vou repetir a frase que escrevi com W. R. Bion e H. Rosenfeld para o obituário de Melanie Klein: "Toda a ciência busca a verdade. A psicanálise é única por acreditar que a busca da verdade é, em si, um processo terapêutico".

(Hanna Segal - entrevista publicada pela revista Veja - 22/04/98)

Comentários

A autora defende brilhantemente a tese da irreversibilidade das descobertas científicas, utilizando-se do modelo da dissertação clássica e de um conjunto de argumentos que vale a pena mencionar: primeiro, relativiza seu próprio ponto de vista (Nenhuma ciência é definitivamente correta.), mostrando-se pouco extremista e portanto bastante persuasiva; depois, utiliza-se de um fato-exemplo realmente incontestável; em seguida, faz uma analogia entre a astronomia e a teoria psicanalítica e, finalmente, cita um trabalho seu, com mais dois colegas, para reafirmar o que defendeu, agora se utilizando de argumento de autoridade.

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Conclusão importante

Evidentemente, podem ser utilizados outros tipos de estruturação dissertativa.
Entretanto, precisamos saber que, de um modo geral, a introdução do texto dissertativo, o seu primeiro parágrafo, já delineia como será feita a organização lógica das ideias. Assim, é muito importante criar com lucidez e riqueza de recursos a abertura do texto, uma vez que a sequência do raciocínio depende do encaminhamento que o início propõe.

➺ Outros tipos de falácias na redação dissertativa

No último artigo em que abordamos a questão da falácia na construção do texto dissertativo dissemos que ela é um problema que pode prejudicar muito o aluno que deseja tirar nota mil na redação. Hoje quero continuar abordando o assunto finalizando com os outros tipos de falácias de que faço uso no estudo da dissertação, sobretudo na redação do vestibular e do Enem. Para saber mais sobre isso, você pode acessar os sites indicados aqui na página.

Tipos de falácias


1- Petição de princípio / círculo vicioso / tautologia: apresentar a própria declaração como prova dela, admitindo como verdadeiro o que está em discussão.

Ex: Nudez pública é imoral porque é uma ofensa evidente.

Comentários

Repare que ambas as afirmações dizem a mesma coisa: a premissa (Nudez pública é uma ofensa evidente) está reformulada como conclusão (Nudez pública é imoral).

2- Ignorância da causa ou falsa causa: relacionar mal causa e consequência, atribuindo como verdadeira causa de algo o que na verdade é simples aparência ou coincidência; colocar o que vem antes como causa do que vem depois.

Ex: Todo profeta ou messias é um líder carismático. Portanto, o exercício de liderança é um caminho para uma inspiração religiosa.

Comentários

A premissa é dúbia, mas, mesmo que fosse verdadeira, ela não torna a conclusão provável. A correlação entre liderança e inspiração não pode gerar a conclusão de que a primeira causa a segunda. É bem mais provável pensar o contrário: inspiração religiosa pode motivar liderança... Não se trata, entretanto, de uma conclusão inevitável. Existem outras possibilidades lógicas, não consideradas no argumento (ex: um fator genético ou social pode ser responsável por ambas as qualidades: inspiração religiosa e liderança, elas podem ser apenas coincidentes etc).

3- Falsa analogia e/ou probabilidade: a partir de determinadas coisas explicar outras, criando hipóteses e não certezas e/ou induções imperfeitas.

Ex: Casamentos são como corridas de cavalo. Alguns são vitoriosos, enquanto outros estão fadados ao fracasso logo de saída. Assim, verifique seus concorrentes antes de fazer a aposta.
Comentários

Além de analogia falsa, por não ser relevante para a conclusão, esse argumento possui outro problema, de que resulta o primeiro: a linguagem excessivamente vaga. Qual o significado de dizer "fazer aposta" num casamento? Quem faz essa aposta? Os próprios parceiros? Os espectadores? Que tipo de casamento é um fracasso? Embora o conselho implícito na conclusão possa, num certo sentido, estar correto, isso não ocorre pelas razões encontradas no argumento.


➺ O que são falácias na Redação dissertativa

Quando se fala sobre a construção do texto dissertativo, sempre esbarramos na construção equivocada dos argumentos e um dos erros mais comuns são as falácias. Veja nesta série de artigos o que são falácias e como elas podem prejudicar a construção do texto dissertativo no Enem.



Falácias


"Existe a persuasão válida, que é aquela em que expomos com clareza os motivos que fundamentam nossa posição - e o interlocutor pode perceber e questionar cada passo de nosso raciocínio - e a persusão não válida, em termos lógicos.
A persuasão não válida é aquela em que o interlocutor não tem consciência de que está sendo persuadido, nem pode perceber e questionar os elementos do processo de persuasão. Por exemplo, as apelações e chantagens sentimentais, as jogadas com as inflexões de voz e com a mímica, os apelos subliminares às necessidades não conscientes etc." Este tipo de persuasão é realizado sobretudo por meio de falácias.

(Severino Antônio / Emília Amaral - Escrever é Desvendar O Mundo, Campinas, Papirus, 1987)

Devemos saber reconhecer os argumentos falaciosos: aqueles tipos de raciocínios nos quais há erros lógicos, mas que podem funcionar e muitas vezes funcionam, isto é, persuadem, por serem bem estruturados do ponto de vista retórico.

Para aprendermos a refutar teses de que discordamos, para exercitarmos a contra-argumentação e também para aprofundarmos o nosso estudo sobre processos argumentativos, é necessário conhecer os tipos mais comuns de falácias, como passaremos a fazer.

Principais tipos de falácias


1 - Argumento terrorista: afirmar que o contrário do que o que está sendo defendido resultaria em uma consequência prática desastrosa.

Ex: Se você não concordar comigo, certamente falará sozinho durante o debate.

Comentários

A premissa (no caso, uma condição) não é relevante para justificar a conclusão, pois outros fatores (como por exemplo a presença de outras pessoas no debate), podem contradizer o que está sendo afirmado. Coação, ameaças ou intimidação, com elementos subentendidos, como nesse exemplo, não têm lugar numa argumentação lógica.

2 - Argumento contra o homem: denegrir a imagem de uma pessoa e/ou fonte, com vistas a comprometer aquilo que afirma.

Ex: Aquele deputado que foi cassado por conduta criminosa defende a adição de flúor à água potável para o abastecimento da cidade. Logo, não devemos adicionar flúor à água potável para o abastecimento da cidade.

Comentários

Apesar de a declaração ter como agente uma fonte que não é confiável, isso não tem relação com o fato em si: adicionar flúor à água potável para o abastecimento da cidade. Rejeitar a opinião simplesmente por ser repreensível a figura que a proferiu, sem verificar se é válida ou não ao nível dos fatos, constitui um dos exemplos mais comuns do uso falacioso do argumento contra o homem.

3  - Argumento por ignorância: uma ideia é demonstrada como verdadeira porque não se demonstrou sua falsidade.

Ex: Ninguém ainda provou que Deus existe. Portanto, Deus não existe.

Comentários

Este raciocínio é falacioso por apelar para a ignorância; não podemos ter nenhuma conclusão a respeito da existência de Deus baseados apenas em nossa incapacidade de prová-la.

4  - Erro de acidente e/ou obervação inexata: generalização apressada, imprecisa, parcial; com ambiguidade resultante da ênfase de uma parte, em detrimento do todo.

Ex: No fim de semana retrasado choveu, enquanto durante toda a semana tinha feito sol; o mesmo acorreu no fim de semana passado. É claro que no próximo fim de semana vai chover de novo...
Comentários

Perceba como é baixa a probabilidade indutiva desse argumento: dois exemplos dificilmente são suficientes para garantir uma conclusão como a colocada... A falácia decorre da pressa com que se fez a generalização.

5  - Falso axioma: partir de afirmações aparentemente inquestionáveis, mas na verdade preconceituosas.

Ex: O jovem é alienado. Logo, ele não se interessa pela cultura nem tem consciência social.

Comentários

A premissa parece inquestionável, mas não é. Ela peca por generalização indevida e também por ser, no fundo, a expressão de um preconceito, convertida em axioma. A conclusão possui os mesmos problemas, invalidando e tornando falacioso o raciocínio.

6 - Ignorância da questão: fugir dos fatos e apelar para a emoção.

Ex: Por favor, funcionário, você está vendo aqui o meu bebê? Ele está doente, começou a chorar por um doce e, então, precisei levá-lo à doceira antes de pegar o carro no estacionamento. Sendo, assim, você não deveria cobrar mais pelo valor do tíquete.

Comentários

Observe que o argumentador apela para a piedade do funcionário, fazendo com ele chantagem sentimental e assim sendo claramente irrelevante em termos lógicos.